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A Borgonha dos Jobards

Claudie Jobard é uma daquelas pessoas que o mundo do vinho te dá um presente simplesmente pelo fato de apresentá-la para você! Enóloga, alguns contam que é a "melhor metade" de Bernard Repolt na Maison Remoissenet em Beaune, onde é a responsável técnica. Sua mãe, Laurence Billard, é reconhecida como uma das melhores Enólogas da França (a primeira a se formar em enologia na Borgonha), trabalhou como Enóloga de Joseph Drouhin por 30 anos, conhecida pelos estimados vinhos que ela fez sob o nome de seu pai (Gabriel Billard).

O pai de Claudie, Roger, era um pépiniériste viticole (um viveirista produtor de vinhas), descendente de gerações de especialistas neste campo que era o negócio da família. Claudie, a 8ª geração da sua família, produz atualmente pequenas quantidades com os frutos das vinhas ancestrais da sua família.

De forma bastante simplificada, durante a condução da degustação de seus vinhos na ocasião da nossa visita em outubro, Claudie nos explica que sua história pode ser entendida em 2 partes: a materna (em Rully) e a paterna (em Pommard).

“Les pépinières viticoles JOBARD”

Em Rully, o pai de Claudie não produzia vinhos. Seu trabalho sempre foi voltado à produção de mudas de videiras. Foi com Claudie que a produção de vinhos começou nesta região de Côte Chalonnaise. A enóloga conta que no início vendia suas garrafas somente para os amigos quando depois vieram os amigos dos amigos. Em 2011, Claudie assume o vinhedo de seu avó em em Pommard (Côte de Beaune) com  vinhas centenárias então plantadas pelo seu bisavó.

CLAUDIE E ROGER JOBARD VIVEIROS DE VINHAS BORGONHA

“Les femmes pendant la vinification? Interdit!”

Para o avó de Claudie, a simples presença das mulheres na adega durante a vinificação poderia interromper o processo de transformação do vinho. Uma mentalidade que mudou bastante em uma geração, possivelmente em função da modernização do trabalho do campo. Com a mecanização, este métier, ora liderado pelos vignerons (viticultores homens), passou a não ser tão mais difícil com a disponibilidade de equipamentos que facilitavam as atividades vitivinícolas. Claudie lembra que, na época que estudava, metade da classe era formada por jovens mulheres. Hoje, as aspirantes à enólogas já são ¾ da turma. Sem muita escolha, o avó de Claudie - conta ela com graça – viu-se aos poucos tendo de ceder! Não só por que tanto a mãe como ela viviam atrás dele no cotidiano das vinhas mas porque não teve filhos homens!

“Alors, c’est une vignoble très expérimentale chez nous.”

Assim como desde pequena andava atrás do avó, Claudie também acompanha até hoje o trabalho aficionado de seu pai que durante 45 anos plantou variedades de Pinot Noir e Chardonnais. Até hoje, ela espera o surgimento de novos clones para plantá-los. “Aqui somos uma vinícola experimental!” explica.

A variedade das plantas (cada variedade plantada em momentos distintos) conduz a forma fragmentada de como é feita a colheita no Domaine. Cada clone a seu tempo de amadurecimento e, é desta fragmentação, é deste cuidado com cada parcela que se produz uma complexidade típica dos vinhos Claudie Jobard.

Fomos recebidos em uma sala anexa à adega. As caixas de vinho produzido eram somente as poucas ali vistas. A pequena produção era percebida, vinhos a mais, só aguardando as novas safras ainda em barricas.

Naquele dia era aniversário da filha de Claudie, um dia com visitantes (nós) mas a mãe explica: “É raro festejarmos mesmo o aniversário. É sempre época intensa com vindima, muito acontece neste primeiros dias de vinificação. Na safra de 2020 a vindima até aconteceu antes – começamos em 23 de agosto! Mas nunca foi tão cedo! Este ano já voltamos à normalidade, ela está acostumada!”

Dentre os vinhos que degustamos um chama atenção pelo nome: Milliane. Este era o apelido da avó de Claudie, Emilianne. Em uma época em que o vinho era reconhecido por ser resultado do esforço masculinho, quem trabalhava na vinha eram muitas vezes as mulheres como Milliane. O rótulo é então uma pequena homenagem a ela.

Provamos também o Le Charmots - o vinho das vinhas centenárias plantadas pelo bisavó de Claudie e que foi foco em uma degustação vertical com safras vinificadas por ela, pela mãe e pelo avó. O ano mais antigo era 1932.

Na adega o resultado da geada que comprometeu muitos vinhedos em 2021. No lugar das 120 barricas com vinho esperadas de produção daquela safra de vinho branco, via-se somente 15.

“On est très très peu.”

Assim como a colheita é fragmentada por serem parcelas distintas de Chardonnais e Pinot Noir, a densidade de cada barrica também é única – cada uma fermenta a seu tempo.

BARRICAS FERMENTANDO ADEGA CLAUDIE JOBARD

Comentamos que já conhecíamos virtualmente o Jacimine (pelas imagens do Instagram), o cavalo que faz o trabalho de arado na vinhas, um trabalho extremamente manual para cuidar das vinhas centenárias. Um trator jamais poderia ser utilizado, somente cavalos e as mãos humanas podem garantir todo o cuidado que estes preciosos vinhedos velhos merecem. Ali ainda acontece o trabalho contínuo de selecionar e isolar os pés para replantar as plantas originais. 

ARADO CAVALO RULLY BORGONHA

“Aqui temos Rully, o lado frutado, fácil, jovem. Em Pommard, outro estilo apesar de ser feito pela mesma pessoa, é o terroir que se expressa.”

Terroir aqui se entende em sua essência compilativa ao envolver vários elementos não só físicos mas subjetivos mas não menos importantes como a paixão de uma família, a tradição e  a inquietude das gerações, os saberes – uma Borgonha em constante e saudável transformação que podemos celebrar em uma garrafa!

COM CLAUDIE JOBARD E FILHA EM RULLY BORGONHA